O Naturalismo no Brasil

No Brasil, o ambiente para um novo movimento literário estava formado: era o fim da monarquia, isto é, do poder na mão de uma só pessoa. E também o fim da escravidão. A luta entre classes era mais evidente – e com mais crueldade. Os escritores notaram isso e iniciaram um novo movimento literário. Um movimento pessimista. Um movimento que mostrava que os ricos cada vez estavam mais ricos. E os pobres? Mais pobres e sem uma esperança para mudança. A maior ironia é que foi em um período de mudanças no país.

A definição do homem agora era gerada pelas novas correntes filosóficas, incluindo a de Darwin (publicada em A Origem das Espécies). Os escritores assumiram uma posição de seres cientistas: um experimento com o homem: coloca o homem em uma determinada situação e o observa, juntamente com suas reações e ações, sem interferir moralmente ou pessoalmente. O caráter das personagens também foi modificado: agora ele era baseado e definido pelas características fisiológicas (e uma preocupação muito excessiva com este aspecto). Alguns escritores chegaram, inclusive, a descrever anomalias psíquicas e ataques cardíacos e a preocupação maior, como no realismo, era com o grupo — e suas ações.

O naturalismo é uma escola literária exclusiva da prosa. Na poesia é notado o parnasianismo e o simbolismo.

Naturalismo – Legião Urbana: O Teatro dos Vampiros

Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto.

E destes dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos

Esse é o nosso mundo:
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance.
Ninguém vê onde chegamos:
Os assassinos estão livres, nós não estamos.

Vamos sair – mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas.

Vamos lá, tudo bem – eu só quero me divertir.
Esquecer, dessa noite ter um lugar legal pra ir…
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas possam se encontrar.

Quando me vi tendo de viver comigo apenas
E com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço

A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo, eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir.

Comparamos nossas vidas
E mesmo assim, não tenho pena de ninguém.

Russo/Bonfá/Villa-Lobos

Machado de Assis: O realista

A Revolução Burguesa foi feita com sucesso. E o povo ganhou liberdade, fraternidade e igualdade? Não! Ganhou exclusão social, trabalho, opressão. Então vamos continuar idealizando a nossa vida, assim como os românticos faziam, certo? Mas é claro que não!

Fora José de Alencar. Olá, Machado de Assis. Bom, em termos literários. Machado e José de Alencar eram amigos e Alencar elogiou Assis chamando o último de “o primeiro crítico da literatura brasileira”, e este disse ao primeiro que Iracema é um belo “poema em prosa”, definição que é dita até hoje em nossos estudos.
Machado de Assis começou sua carreira como um escritor romântico. Mas começou a ir para um novo estilo: o realismo. O estilo novo preocupava-se em mostrar personagens do povo e o próprio povo, indo contra a idealização romântica e mostrando a realidade opressora e da exclusão social. O romantismo tinha um olhar crítico e era mais objetivo: não era tão detalhado como o romantismo. Ainda havia a influência do Manifesto Comunista. O romantismo olhava para o passado e o realismo olhava para o presente: a ação acontece e é documentada, quase que ao mesmo tempo. O realismo é a época da razão e da crítica de tudo.

A figura de Machado de Assis cria uma nova literatura: um autor que era ácido, crítico, irônico e provocativo. Vivia em rodas cultas mas era diferente dos outros: mulato, gago e epilético. As críticas machadianas não eram percebidas na época. Mas como esse autor conseguiu transformar-se em imortal? Machado cria uma nova estética literária: ele é atual mesmo escrevendo em 1860. Machado revoluciona o padrão literário. Machado quebra com as regras da literatura. Machado consegue mexer com o nosso íntimo. Machado fala com o leitor pois os problemas da época ainda são os mesmos. Machado fala com o interior: as pessoas ainda são as mesmas e os problemas que ele via ainda existem até hoje. Machado viu o real: e não idealizou nada. Falou o que via. Criticou a humanidade. Criticou as ações humanas.

Machado entendeu o ser humano.
É por isso que ele ainda está por aqui até hoje.

Intertextualidade: Romance Indianista e os filmes: Tainá 2: A Aventura Continua

Os Romances Indianistas sempre quiseram passar que o índio era o dono original do Brasil e fazer com que ele fosse o herói nacional. Através deste sentimento, que ainda vive até os dias atuais, é que foi feito a série de filmes Tainá.

O filme conta as incríveis e emocionantes aventuras de uma indiazinha órfã que vive com seu avô, o velho e sábio Tigê, em um belo recanto do Rio Negro, na Amazônia. Com Tigê, ela aprende as lendas e histórias de seu povo, convivendo intimamente com a floresta e seus animais. Aos poucos, Tainá torna-se uma guardiã da floresta e consegue salvar um pequeno macaquinho de cair nas garras de um traficante. Apelidado de Catú, o novo amiguinho passa a ser seu companheiro inseparável após a morte do avô. Protegida por um amuleto deixado por Tigê, Tainá segue na luta em defesa da selva. Perseguida pelo traficante, a indiazinha vai parar em uma pequena vila onde mora uma bióloga e seu filho Joninho, que a contragosto está acompanhando a mãe em suas pesquisas científicas. O convívio entre eles se torna difícil e Tainá resolve deixar a vila, mas Joninho, que já planejava uma “fuga” para pregar uma peça na mãe, a segue e agora terá que aprender com ela a sobreviver na floresta.

Se interessou? Veja o trailer:

Brincar de Índio – Intertextualidade – Romance Indianista (Romantismo)

Uma pequena intertextualidade com o Romance Indianista, principalmente famoso por José de Alencar. A música infantil mostra que o herói deve ser o índio, assim como os escritores românticos da época mostravam em sua literatura.

Vamos brincar de índio
Mas sem mocinho pra me pegar…
Venha pra minha tribo
Eu sou cacique, você é meu par…

Índio fazer barulho
Índio ter seu orgulho
Vem pintar a pele para a dança começar

Pego meu arco e flecha
Minha canoa e vou pescar
Vamos fazer fogueira
Comer do fruto que a terra dá

Índio fazer barulho
Índio ter seu orgulho
Índio quer apito
Mas também sabe gritar

Índio não faz mais lutas
Índio não faz guerra
Índio já foi um dia
O dono dessa terra
Índio ficou sozinho
Índio querer carinho
Índio querer de volta a sua paz

Os Romances Românticos

O Romance foi originado nos folhetins europeus. Os primeiros romances que foram lidos no Brasil eram europeus e não tinham nenhum tipo de contato direto com a realidade brasileira da época.

A questão era: o romance nacional não pode ter apenas a temática brasileira. Ele precisa falar a língua do povo brasileiro e quebrar com os “cânones” da literatura da época que era firmado com a língua e os temas de Portugal.

Era uma independência brasileira também na literatura. A independência do país em 07 de setembro de 1822 marcou muito os brasileiros da época e os literatos precisavam mostrar isso nos textos. E foi então que os primeiros folhetins tipicamente brasileiros apareceram. Era a resposta brasileira para o colonizador, “quebrando” a reprodução portuguesa, mas não completamente, já que a Europa continuou a ditar tendências (essa quebra só foi completa na Semana de Arte Moderna em 1922).

Surgiu a necessidade de trazer um herói nacional. E quem era o nosso herói? O índio! O primeiro morador do Brasil. Surge José de Alencar e sua trilogia indianista (Iracema, O Guarani e Ubirajara). O Romantismo era a moda da época e Alencar soube usar isto de um modo bem brasileiro: colocou uma índia como personagem principal, fez um romance com palavras em tupi e diversas metáforas centradas na natureza brasileira. A ideia era construir um passado brasileiro.

Mas não havia apenas este tipo de romance romântico. Havia o Romance Regionalista e o Romance Urbano.

O Romance Regionalista divulgava o Brasil para os brasileiros, mostrando aspectos locais ignorados pelo povo, como tipos e costumes regionais. Já o Romance Urbano tinha ênfase nas relações amorosas, preocupações burguesas e o dinheiro.

O Romance Regionalista já estava aproximando-se da próxima escola literária: o Realismo.

As obras de José de Alencar são as que mais pode-se notar estes três tipos de romance:

Romance Indianista:
– Trilogia Indianista (Iracema/Ubirajara/O Guarani) – José de Alencar

Romance Urbano:
– Senhora – José de Alencar

Romance Regionalista:
– O Gaúcho – José de Alencar

A Segunda Geração Romântica

A segunda geração romântica foi marcada pela melancolia, tédio e morte: um sentimentalismo que tomou conta dos poetas desta época. Também mostrou um tipo de liberdade em poder descrever os seus próprios sentimentos. Havia um tipo de êxtase e tormento.
Também conhecido como ultrarromantismo, a segunda geração romântica aconteceu no Século 19 e tem, no Brasil, seu principal representante em Álvares de Azevedo.
O “eu, eu mesmo, meu” tem um papel muito grande nesta época: em comparação com o Arcadismo, que queria voltar para onde pertencemos, isto é, as raízes clássicas gregas e à natureza e vida no campo.
O ultrarromantismo ainda possui o conhecido de byronismo: a influência de um poeta chamado Byron que ia contra a moral e religião da época.

A segunda geração romântica pode ser mais visualizada na poesia. A prosa romântica segue um “cronograma” diferenciado.

Soneto
Álvares de Azevedo

Perdoa-me, visão dos meus amores,
Se a ti ergui meus olhos suspirando!…
Se eu pensava num beijo desmaiando
Gozar contigo uma estação de flores!

De minhas faces os mortais palores,
Minha febre noturna delirando,
Meus ais, meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores…

Morro, morro por ti! na minha aurora
A dor do coração, a dor mais forte,
A dor de um desengano me devora…

Sem que última esperança me conforte,
Eu – que outrora vivia! – eu sinto agora
Morte no coração, nos olhos morte!

No texto acima, é possível notar todos os elementos da Segunda Geração Romântica: a centralização no eu, a melancolia, a tristeza e, finalmente, a morte.

I Me Mine – Segunda Geração Romântica

Eu, eu mesmo, meu (I me mine)

George Harrison

Por todo o dia
sou mais eu
sou mais eu
sou mais eu.

Por toda noite
sou mais eu
sou mais eu
sou mais eu.

Agora eles estão com medo de largar
todo mundo está tramando
ficando mais forte todo o tempo.

Por todo dia sou mais eu.

Eu, eu mesmo, meu.
Eu, eu mesmo, meu.
Eu, eu mesmo, meu.
Eu, eu mesmo, meu.

Tudo o que eu ouço é
sou mais eu
sou mais eu
sou mais eu.

Até mesmo nas lágrimas
sou mais eu
sou mais eu
sou mais eu.

Agora eles estão com medo de brincar
e eles estão dizendo isto
e estão jorrando mais que o vinho.

Por todo dia sou mais eu.

Eu, eu mesmo, meu.
Eu, eu mesmo, meu.
Eu, eu mesmo, meu.
Eu, eu mesmo, meu.

As três gerações românticas

O Romantismo. A escola literária brasileira que durou 45 anos. Começou em 1836 com Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães e terminou com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis em 1881.

Mas não deve-se confundir ROMANTISMO com o ROMANCE e nem com ROMÂNTICO. O romantismo é uma escola literária que, basicamente, aposta no nacionalismo. O romance é uma composição em prosa. E romântico é a definição conhecida: amor, paixão, estar apaixonado.

No Brasil, tivemos 3 gerações românticas.

Primeira Geração Romântica

A primeira era uma geração nacionalista, ufanista e que estava em busca de uma construção da identidade nacional. Começou, basicamente, após a Independência do Brasil em 07 de setembro de 1822. Havia um sentimento anticolonialístico para com Portugal. Havia muita ênfase ao índio, aos negros, à natureza brasileira e até o europeu.
Livro da primeira geração: Iracema – José de Alencar [leia aqui]
Poesia da primeira geração: À minha família – Gonçalves de Magalhães. [leia aqui]

Segunda Geração Romântica

A segunda geração era a geração melancólica. Havia o conhecido mal do século (uma visão depressiva das coisas; culto da noite; doenças psíquicas; angustia e morbidez) e a fuga da realidade (através de sonhos, da morte, loucura, embragues). Entidades demoníacas também começaram a ser citadas, assim como o próprio inferno. Mulheres eram sempre idealizadas e distantes. Também foi onde começou o individualismo.
Poesia da segunda geração: O poeta moribundo – Álvares de Azevedo [leia aqui]
Livro da segunda geração: Inocência – Visconde de Taunay [baixe aqui]

Terceira Geração Romântica

A terceira geração era a geração social. Foi influenciada pelas modificações da sociedade, como por exemplo, a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. Há, também, a mulher carnal e presente, ao contrário da segunda geração, e também está caminhando para o realismo (já é possível observar isso na obra de José de Alencar, mas é mais claro na obra de Machado de Assis). Há a luta pela liberdade e a crítica social. É onde o realismo termina no Brasil.
Poesia da terceira geração: O navio negreiro – Castro Alves [leia aqui]
Livro da terceira geração: Senhora – José de Alencar [leia aqui]

Outros livos do Romantismo:

A Escrava Isaura – Bernardo Guimarães [leia aqui]
A Moreninha – Joaquim Manoel de Macedo [leia aqui]
A Mão e a Luva – Machado de Assis [leia aqui]

Contexto Histórico do Romantismo

Na Europa, a Burguesia estava crescendo – era a “classe social” que tinha o dinheiro nas mãos. Com isso, um novo tipo de literatura precisava surgir. Ao lado disso havia a questão da realização individual. Depois de muito tempo vivendo sobre a opressão religiosa (Barroco), agora era a hora de pensar em si mesmo.
Veio então o Romantismo. A ideia era quebrar com os padrões do Classicismo (muito influenciado pelo modelo Grego). Os autores agora teriam uma liberdade maior – da mesma forma que os burgueses teriam também.

Na França, estava se iniciando a Revolução Francesa. Esta revolução lutava pelo final do Absolutismo (uma única pessoa possui todo o poder, geralmente o monarca) e para que o povo (leia-se a burguesia) tivesse poder. O que faria com que o movimento tivesse uma adesão maior? As artes. Como os ideais do Romantismo eram parecidos com o da Revolução Francesa, a escola literária foi uma aliada na revolução. E, juntamente com o crescimento da burguesia, foi também o crescimento do Romantismo: uma coisa está ligada a outra.

No Brasil, também estávamos passando por um processo de revolução. A Independência do Brasil, em 07 de setembro de 1822, pedia uma quebra dos padrões artísticos também. A ideia era trazer a afirmação de uma identidade ao país e a afirmação do Brasil como uma nação e não como uma colônia de Portugal. Apoiado com as ideias da Revolução Francesa e do Romantismo original, o Romantismo Brasileiro foi tomando forma. A parte da identidade brasileira fez com que as artes voltassem os seus olhos para os nossos habitantes mais antigos: os índios. E a partir da imagem do índio, o Romantismo Brasileiro começou a criar a identidade do Brasil.